Dedico este texto aos meus 'amigos' que cruzaram meu caminho
Nossa! Quando paramos realmente para pensar, aí é que percebemos o quanto o tempo passa. E passa com muita rapidez, inclusive quando nos recordamos dos momentos bons e inocentes da vida.
Num suspiro profundo lembro de um tempo - não tão remoto - em que eu viajava desesperadamente para garantir um pouco mais de experiência na minha vida profissional. Primeiro, tomei um susto. Fui escalado para fazer minhas magias numa cidadezinha aí do interior da Bahia. Ufa! Respirei fundo, peguei minhas lebres, minha cartola, minha varinha mágica e fui à luta. Entretanto, tinha um detalhe: eu tinha que pegar um tal ônibus que passava pelo deserto do Saara (recebi mil recomendações quanto a este caminho), logo tive que levar uma garrafa com água para beber na longa estrada cansativa com sete horas de duração (que em condições normais far-se-ia em três horas), uma toalha para me proteger da infeliz poeira que adentrava no ônibus (detalhe: busão com ar condicionado) e ainda torcer para não quebrar.
Chegando no terminal de viagem, olhei para um lado, para o outro e não vi ninguém conhecido. Porém, havia recebido a instrução de que eu viajaria com uma moça (muito bonita e estupidamente perfeita - seria um sonho!), mas nada desta moça. De repente vejo um sujeito esguio, camisa azul largadona, com chinelos de dedos, boné muito louco e uma mala de viajem para cinco dias e fitei-lhe os olhos pensando no pior. Veio a mim a lembrança de um jeito chato (tipo "tô nem aí") de um cara que havia encontrado numa pousada noutra cidade baiana onde me hospedei para fazer outros números. E, como ousado que sou, aliás, cara-de-pau, perguntei-lhe qual o destino e ele me responde olhando para o outro lado: "ali", e pronto. Clima pesadíssimo e assim começa a aventura de Fábio Crosué.
Algo naquela criatura me chamava atenção. Talvez os olhos de peixe ou o ar rude metropólito que transpassava, mas tinha algo diferente. Questionei-o mais. Era o que eu estava pensando... ele, esta critura, absorveu a moça bonita, logo seria ao lado dele que viajaria. Seria o fim e as sete horas intermináveis se transformariam quatorze, vinte e uma...
Julguei, entramos, sentamos e paguei com a língua. Ao contrário do pensado, as horas passaram num estalar de dedos. Foram muitos risos e muitas histórias compartilhadas em apenas algumas horas. De estranhos aos melhores amigos - de infância. Foi divertido! Uma amizade bem criada, da maneira mais louca possível.
Como tudo na vida, passageiro. Minha infância e minhas histórias partilhadas com meu melhor amigo duraram sete horas e nada mais.