quinta-feira

Ingenuidade contagiosa

Vejo nos olhos daquela criança algo que não se pode explicar assim, com tão poucas palavras. Ela nos passa uma perceptível indiferença que nos traz à memória a nossa infância, delegada por desejos tão singelos e infantis. Brincar, um desses desejos, não é simplesmente brincar, é adornar o mundo, é tornar-se super-herói, é destruir com um sopro (que mal atinge uma formiga) um mostro de cinquenta metros de altura, é salvar o mundo dos invasores e suas armas fundidas em níquel, é ganhar a briga com uma vareta de dez centímetros que caiu agora da algaroba, transformando-a em espada de aço forte e pesado que emite raios luminosos e afastam as trevas. Brincar é ter força para carregar nos braços franzinos o amigo ferido que está "meio-morto", nem que seja por dois metros, até que caiam ao chão e risos sejam expressados.

Mergulhar no olhar inocente é mergulhar na infinitude do mundo que não nos pertence mais. É mágico e embaraçoso adentrar e penetrar profundamente na visão pueril, porque quando menos esperamos já achamos que somos grandes demais. Aos conseguirmos, redescobriremos a beleza da inocência, pureza e candura que um dia possuímos em supremacia.

Um susto. A criança percebe que eu observo sua ingenuidade. Penso rápido. Volto o rosto na direção contrária. Outro susto. Ela me toca. Me olha com os olhos graúdos e polidos e me pergunta com sua mansidão particular e voz branda: - o senhor quer brincar? - e me abre um belo sorriso me oferecendo seus melhores brinquedos que estavam postos de maneira desajeitada em suas mãos tão miúdas, e logo em seguida, um sorriso me é exprimido e não suporto tamanha petição daquele pequeno ser que sem recear conseguiu despertar em mim um novo jeito de ser criança.

3 comentários:

  1. Em primeiríssimo lugar, amei a descrição do blog!
    Vc resumiu tudinho!

    E o texto?
    Tão sublime e nostálgico!
    Encantador...

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  2. Ser criança é mesmo muito bom...
    É por isso que tento ao máximo ser uma, dá pra perceber?
    hehe
    Belo texto,
    Abraços

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  3. Texto bom de se ler, Fábio.
    Estou gostando de ver.
    Continuemos...

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